06/06/2018

Na véspera do dia do amor




Na véspera do dia do amor


Por Bruno Barreto



Passei por Botafogo outro dia desses. Para quem não conhece, é um bairro nobre do Rio, e que por sinal estava um pouco mais movimentado que o normal por causa da véspera do Dia dos Namorados.

Caminhei por ali e, de surpresa, um senhorzinho se aproximou e me ofereceu um filete de papel, onde pude ler: “O amor é o calor que aquece a alma”. Claro, conheço a frase daquela música, mas fiquei intrigado com a oferta e imediatamente perguntei do que se tratava aquilo.

Ele se atentou em me explicar que estava vendendo frases de amor e que aquela na minha mão já tinha sido paga por outro alguém. Disse também que agora estava apenas distribuindo as encomendas de amor que estavam em estoque.

Olhei para o lado, e as frases de amor estavam espalhadas em lotes de pequenos pedaços de papel distribuídos em um compensado de madeira e presas apenas por algumas pedras portuguesas de calçada.

Achei interessante e inusitado. Criativo e simbólico. Perguntei quanto custava uma frase de amor, esperando uma resposta como: “O preço é o senhor quem dá... Ou, quanto puder pagar...”, mas ele foi taxativo: “Um centavo”.

— Um centavo? — eu perguntei! E a resposta que recebi é a que compartilho aqui:
“Sim, senhor. O amor está valendo menos que isso no mercado. Mas um centavo é o preço máximo pelo qual posso vendê-lo e o mínimo para que eu possa dignificá-lo. Tentei oferecer ele aqui de graça aos passantes, mas como o senhor pôde ver pelo chão, ele se tornou lixo na mão de quem não consegue compreendê-lo.”

Ele olhou para mim sem pedir absolutamente nada. Sem a intenção de me vender nada também. Afinal, naquele momento estava apenas exercendo a função de distribuir as encomendas que já estavam pagas e em estoque. Continuou a fazer o que se propôs ali. 

Continuou a oferecer o que não tinha preço. A propagar uma ideologia simbólica. A educar nas ruas.

E quando eu me percebi contribuindo com a causa deste professor, é que entendi a dimensão do que havia recebido:

“O amor tem um preço. E por menor que seja o valor, e mais simbólico que pareça, temos de apoiá-lo. Quando negamos em adquiri-lo, nem que seja por alguns segundos, perdemos um grande investimento em nossas vidas. Só uma alma aquecida percebe amores desamparados pelo chão das ruas. Em papéis picados, escritas torturantes, distantes, ou ao seu lado. Se você não estiver disposto a pagar pelo amor, nunca entenderá o quanto ele realmente vale para você.”

Em outro dos papéis estava escrito: “Ninguém é capaz de oferecer o que não possui.” Na véspera do dia do amor, comprá-lo será sempre uma urgência.

Feliz dia! Feliz todos os outros dias.



Gostou do texto? Ele é parte integrante do livro: A CHAVE, de Bruno Barreto. Siga o autor nas redes sociais em: @brbarreto e @Arthel.com.br.